quarta-feira, 15 de abril de 2020

Estimando melhor casos brasileiros de covid-19 usando dados de outros países

A tabela abaixo usa dados da OMS (confirmados e mortes) e da ONU (dados populacionais). Dá para trabalhar muito com estes dados, mas queria chamar atenção para os vários percentuais de mortalidade e como podemos usar isto para estimar o número de casos no Brasil.
A taxa de mortalidade deveria ser muito próxima em todos os países, mas não é. A explicação mais simples para isto é a quantidade de testes que estão sendo realizados, incluindo assintomáticos e principalmente em mortos.Dos países na tabela, Alemanha e Coréia do Sul estão fazendo testes em massa - e neste caso a mortalidade é parecida.
Países como Espanha e Itália pararam de fazer testes por vários motivos. Na Espanha, em algum momento os testes simplesmente acabaram, veja aqui. Na Itália, problema parecido aconteceu, e a situação só foi controlada em algumas poucas cidades que testaram em massa no começo e fizeram um lockdown. O exemplo (positivo) mais claro disto é a cidade italiana de Vò (veja aqui).
Perceba ainda que  o percentual da população infectada nestes países é enorme, e mesmo sendo países ricos, haja testes. Chega um momento que deve ser mais prático ir tratando todo mundo e pronto. Mais um fator que explica o alto índice de mortalidade em alguns países: a idade da população. A população da Itália tem média de idade muito alta, mas não deveria destoar tanto do resto do mundo. A falta de testagem em massa continua sendo a melhor explicação. O Reino Unido admitiu recentemente isto, e inclusive estão elogiando os testes em massa que a Alemanha está fazendo (veja aqui).

Enfim, o que a tabela diz sobre o nosso caso?

    Se considerarmos uma mortalidade de 2,38% (média entre a taxa de Alemanha e a taxa da Coreia), usando os dados de mortos no Brasil, devemos ter pelo menos 65 mil casos confirmados no Brasil, ao invés dos 25 mil oficiais.
    Outros fatores que atestam nossos dados estarem bastante comprometidos: 
    • o percentual da nossa população que está infectada é baixíssimo, menor ainda que o da Coreia (confira na tabela), que fez um lockdown completo, muito diferente do que está acontecendo aqui;
    • muitos mortos estão sendo testados, ou seja, temos potencial para muito mais infectados, principalmente assintomáticos;
    • por mais que desejamos otimistas, ainda não chegamos nem perto do pico de infecções. Ontem, pela primeira vez, atingimos 200 mortos/24h.
    É aqui que o problema fica sério: se a estimativa de 65 mil casos estiver certa (e meu chute é que ela também está bem abaixo do real), temos grande potencial para em pouco tempo estarmos bem pior do que os EUA, que hoje está com quase 2.000 mortos/24h.
    Os dados aqui batem bastante com os produzidos por Vinicius Bastos Gomes e Fernando Wittmann (veja aqui), e neste estudo, usando dados já consolidados, eles indicam que EUA levaram 10 dias para pular de 1.500 mortos para 10.000. Se nossa situação for parecida com a deles, já teremos passado a barreira dos 10.000 mortos no começo de maio. Se estivermos piores que os EUA (muitas regiões do Brasil ainda não estão testando quase nada), então mais gente ainda terá morrido até lá.
    #FiquemEmCasa